O catolicismo segundo um autor católico

Catolicismo romano nas palavras de um personagem, cujo autor é católico ortodoxo:

- Primeiramente  é uma religião anticristã (…) – Em segundo lugar, o catolicismo é até pior do que o ateísmo, na minha opinião. Sim, esta é a minha opinião. O ateísmo apenas nega, ao passo que o catolicismo falseia o Cristo, calunia, difama e se opõe ao Cristo. Prega o anticristo! Declaro e assevero que prega o anticristo. Esta é a convicção a que cheguei e que me atribulou. O catolicismo romano não consegue sustentar a sua posição sem uma política universal de supremacia e exclama “Non possumus!” (Não podemos). Assim, a meu ver, nem religião é, mas tão somente uma espécie de tentativa de continuação do Império Romano Ocidental; e tudo nela está subordinado a esta ideia, começando mesmo pela fé. O Papa se apoderou da terra, seu trono terrestre, e empunhou o gládio. Desde então tudo continuou da forma antiga, sendo que à espada, ao gládio, eles juntaram a mentira, a fraude, o embuste, o fanatismo, a superstição e a vilania. Divertiram-se com os mais santos, mais sinceros e mais ferventes sentimentos do povo. Trocaram tudo, tudo, pelo dinheiro, pela vil força terrena. E não é justamente isso que ensina o Anticristo? Como poderia o ateísmo deixar de provir dele? O ateísmo emergiu do próprio catolicismo romano! Este gerou aquele. Começou pelos seus adeptos: poderiam eles crer em si próprios! Um se fortaleceu com a reação contra o outro. Um se fortaleceu contra o outro. Um foi procriado pela mentira e pela incapacidade espiritual do outro. Ateísmo! Entre nós são só as chamadas classes excepcionais que não crêem, aquela camada que conforme tão bem se expressou Evguénii Pávlovitch [um dos personagens do romance], perdeu as suas raízes. Mas aí pela Europa uma formidável massa de gente está começando a perder a fé, um pouco por causa da treva e da mentira e muito, principalmente agora, por causa do fanatismo e do ódio da igreja e da cristandade. (Príncipe Liév Nikoláievitch Míchkin)

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. O Idiota. Trad. e notas: José Geraldo Vieira. 3. ed. São Paulo - SP: Martin Claret, 2015. pp. 684-5.

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